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Voz além dos assistentes

Para quem trabalha em frente de um microfone, o momento é único. Estamos vendo o fechamento de um ciclo que começou quase um século atrás


11 de janeiro de 2019 - 21h16

Vaso sanitário inteligente Numi 2.0 será lançado em 2019 com a voz Alexa embutida (crédito: Jason Bermingham)

Na CES 2019 até os vasos sanitários falam. A popularidade da voz como interface é uma ótima notícia para locutores e produtores de áudio.

A história dos assistentes de voz começo 80 anos atrás numa feira de inovação parecida com a CES 2019: a World Trade Show de Nova York, em 1939. Foi lá que a Bell Labs realizou a primeira demonstração pública do Voder, uma máquina que sintetizava a fala humana de maneira eletrônica com a ajuda de um assistente.

Até o final dos anos 50, a IBM utilizava esta tecnologia no primeiro computador capaz de falar sozinho, o IBM 704 – que, no final dos anos 60, serviu de inspiração para o hiper-realista HAL 9000 no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Ou seja, a ascensão da Alexa, Google Assistent, Cortanta, etc. é uma consequência desta série de eventos.

(crédito: Jason Bermingham)

Esta maquininha num posto de gasolina de Las Vegas explicou o passo-a-passo de pagar com cartão de crédito por meio de uma gravação de voz.

Como profissional de voz, fico muito feliz em acompanhar de perto este momento histórico do meu mercado. A questão não é que eu pretendo algum dia me tornar a voz de um assistente virtual. Nesse sentido, as oportunidades são poucas e a concorrência é grande. Mas vejo que a popularidade de voz como interface está trazendo novas oportunidades de trabalho paralelo, já que as empresas estão modernizando a maneira como elas se comunicam com o público. Para dar apenas um exemplo, para algo tão simples quanto uma URA, já recebi vários briefings pedindo uma voz parecida com a das assistentes virtuais: hiper-natural e conversacional.

Hoje em dia tudo que fala é considerado mais moderno. Isso vai resultar numa onda de novos produtos e serviços que antes não utilizavam voz. No Brasil, você está acostumado a ouvir uma voz de boas-vindas quando pega o seu ticket no estacionamento de um shopping ou aeroporto, mas aqui nos Estados Unidos, ouço vozes em ambientes menos óbvios também. Quando parei num posto de gasolina uns dias atrás, ouvi duas vozes. A primeira saia da bomba, falando sobre uma promoção enquanto eu enchia o tanque. A segunda apareceu depois, falando de uma maquininha perto da mangueira onde se calibra os pneus.

Ou seja, para quem trabalha em frente de um microfone, o momento é único. Estamos vendo o fechamento de um ciclo que começou quase um século atrás. É cedo para saber se voz vai se tornar a interface padrão, efetivamente substituindo o teclado. Existe também a questão de privacidade, um tema central aqui na CES quando se fala de assistentes virtuais. Você realmente quer que o seu vaso sanitário escute tudo que você fala? Mas uma certeza tenho: pelo menos no futuro próximo, as empresas vão ter que seguir esta tendência para se mostrarem relevantes – e vou aproveitar as oportunidades que virão junto.

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