Quatro reflexões para levar da CES
Gadgets não são as coisas mais impressionantes apresentadas na edição 2019 do evento em Las Vegas
Gadgets não são as coisas mais impressionantes apresentadas na edição 2019 do evento em Las Vegas
14 de janeiro de 2019 - 19h40
Por George P. Slefo e Brian Braiker, do Ad Age*
Pelos números, a CES é um circo impressionante de gadgets. A feira anual realizada em Las Vegas ocupou 2,5 milhões de metros quadrados, com 4,5 mil expositores exibindo seus produtos – as mais recentes telas 8K, drones gigantes, carros com pernas, animais de estimação-robôs e protótipos de carros que causariam inveja a Bruce Wayne – mas que nunca verão a luz do dia.
Apesar do número de produtos apresentados na CES deste ano, os itens mais quentes – e mais relevante para os anunciantes e divisor de águas para os consumidores – não podem ser vistos. Da inteligência artificial aumentando a potência de praticamente tudo até a próxima geração da tecnologia de telecomunicações, o 5G, as coisas mais excitantes não podem ser tocadas.
A seguir, veja quatro reflexões do Ad Age a partir da visita aos estandes e de conversas com especialistas.
A indústria está acelerando a conexão de tudo
Na terceira temporada de Os Simpsons, Herb, o irmão empreendedor de Homer Simpson faz um grande esforço para desenvolver um produto inovador que o tornaria rico. Homer o aconselhou: “pegue um produto que já existe e coloque um relógio nele”.
A mesma lógica se aplica com força total na CES deste ano, mas ao invés de relógios, as companhias estão adicionando conectividade aos produtos – sejam fraldas, vasos sanitários, cortadores de grama, sejam garrafas físicas, como o Facial Treatment Essence Smart Bottle, da Procter & Gamble, que recompensa os usuários a cada vez que eles aplicam o produto.
O combustível para o movimento de conexão de tudo é a tecnologia mobile 5G. Assim que estiver plenamente desenvolvida, o que não deve ocorrer em menos de dois anos, os consumidores terão velocidade capaz de baixar um filme de duas horas em dois segundos. Além disso, o verdadeiro objetivo da rede 5G é prover solução para a conexão entre os dispositivos no mundo. Cerca de 50 bilhões de aparelhos conectados existirão no mundo em 2020, gerando 4,4 zettabytes de dados. Um zettabyte tem um trilhão de gigabytes.
Num cenário com tantas companhias se esforçando para fazer sentido com os dados que já têm, um mundo todo conectado irá apenas exacerbar esse problema. Entretanto, essas mesmas companhias estão lutando para proteger os dados dos consumidores num momento em que está crescendo o número de pessoas preocupadas com o que as empresas estão fazendo com seus dados.
Todos estes dispositivos conectados virão de diferentes companhias e coexistirão em distintos ecossistemas. Será que uma geladeira inteligente da Samsung conseguirá conversar com um fogão inteligente da LG? Provavelmente não. As cidades inteligentes melhorarão a infraestrutura e se tornarão mais seguras ou se tornarão mais vulneráveis a hackers e erros no sistema? Talvez na próxima edição da CES as companhias tentarão responder a essas questões críticas ao invés de exaltar a promessa de um mundo conectado.
A guerra pelo domínio da voz será dentro do seu bolso
Apesar de termos apenas alguns anos de desenvolvimento das tecnologias de voz e caixas de som inteligentes, um duopólio já emergiu. Uma indústria inteira de produtos para o lar floresceu em torno dessas duas empresas: interruptores de luz e micro-ondas inteligentes funcionam com a Alexa ou com o Google. Isso criou, segundo Jared Belsky, CEO da 360i, um efeito cascata que serve apenas para fortalecer o domínio do duopólio.
No entanto, se Belsky tiver que apostar, diria que o Google está com a vantagem. “A guerra da voz será ganha no seu bolso, no seu dispositivo móvel. Não é o seu alto-falante inteligente. O que é menos compreendido é que o Google está se tornando extraordinariamente forte, e sua vantagem é o smartphone. É o Android; é o que está no seu bolso. Isso levará a muita força para o Google”, analisa.
A Inteligência Artificial (IA) já é onipresente
Neste ano mais do que nunca, os visitantes da CES foram capazes de mapear o progresso da inteligência artificial no mercado. “A grande mudança em relação ao ano passado é a humanização da IA e como ela está completamente onipresente em nossas vidas”, diz Allan Cook, líder de negócios de realidade digital da Deloitte Digital. “Se você pegar dispositivos com comando de voz, verá que os estará usando o tempo todo. No ano passado, eles eram um grande brinquedo. Minha família usou um pela primeira vez. Agora, todos estão pedindo para o seu dispositivo preferido”.
“Continuamos pensando que IA é algo que está se aproximando, mas ela já está infiltrada nas nossas vidas. Está em várias partes da infraestrutura que usamos e nem sabemos, desde sistemas de recomendação no varejo online até o controle de tráfego aéreo”, conta Deirdre McGlashan, global chief digital officer da MediaCom. Apesar de sua onipresença, a incerteza ainda paira em torno da IA. “Todo mundo está preocupado com a chegada do exército de robôs e criando um cenário de juízo final. Mas eu acho que os verdadeiros riscos estão em não entender, quando você está usando produtos com IA, quais eram os dados que estavam sendo alimentados”, complementa Deirdre.
Cozinhas inteligentes ainda não são uma coisa
Cozinhas inteligentes têm estratégia de venda agressiva há muito tempo. Ainda não está claro qual é o problema que elas realmente estão tentando resolver. A LG divulgou seu “futuro das cozinhas inteligentes” na CES deste ano. Os recursos incluem o pré-aquecimento automático do forno ao selecionar um prato do Drop, um aplicativo popular que fornece receitas.
Segundo a empresa, sua coleção de aparelhos conectados – refrigeradores, lava-louças e fornos –“trabalhará em conjunto para ajudar a simplificar a tarefa de preparação de alimentos, bem como a limpeza”. No entanto, não é difícil pré-aquecer um forno ou apertar botões na máquina de lavar louça. E enquanto a maioria das pessoas espera que seus aparelhos durem pelo menos uma década, como a tecnologia agregada irá se sustentar a longo prazo?
Outras empresas, como a Samsung, estão adicionando aplicativos aos seus aparelhos inteligentes, permitindo que os consumidores façam coisas como procurar por receitas. É claro que a seleção de receitas é algo que as pessoas já podem fazer, talvez de maneira mais eficiente, com seus telefones, laptops ou tablets. A geladeira da Samsung tem a funcionalidade de mandar uma mensagem de texto para o dono quando ele deixe a porta aberta acidentalmente – o que não é útil se você não estiver em casa. Todos esses recursos inteligentes terão um custo adicional para o cliente e ele decidirá se os quer.
*Tradução: Fernando Murad
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